segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Momentos da entrevista de D'Ale ao Globo Esporte!

D'Alessandro completa seis anos de Inter e avisa: "Meu lugar é aqui"


Por Alexandre Alliatti e Tomas Hammes
Porto Alegre.  Assista a integra aqui Globo Esporte



Desembarcou no aeroporto Salgado Filho. Viu 400 pessoas gritando seu nome. Acenou para elas. Entrou em um carro. Viu o carro ser cercado. Viu as pessoas gritarem seu nome com mais força. Passou em um hotel. Deu rápida entrevista coletiva. Foi ao Beira-Rio. Ficou em um camarote. Passou o tempo todo autografando camisas. Observou um jogo chato, daqueles de maltratar o ânimo. Comeu um pastel. Sentiu o cansaço de um longo dia invadir o corpo. Bocejou. Espreguiçou-se. Fechou os olhos. E aí é como se Andrés D’Alessandro, seis anos depois do dia em que pela primeira vez colocou os pés no Beira-Rio, acordasse como maior ídolo da torcida colorada, ídolo a ponto de planejar encerrar a carreira vestindo vermelho:
- Eu já escolhi meu lugar. Meu lugar é aqui. Não tem como cogitar sair.
O tempo passou voando para o camisa 10 entre o 30 de julho de 2008, quando assinou contrato com o Inter, e este 30 de julho de 2014, quando vai a campo diante do Ceará pela Copa do Brasil. Aos 33 anos, ele fala “bah”, é capitão do time, campeão da Libertadores, campeão da Sul-Americana, campeão da Recopa, cinco vezes campeão gaúcho. Carrega dores cicatrizadas na lembrança (a derrota para o Mazembe, o afastamento em 2009, a distância de uma Copa do Mundo que aconteceu dentro de sua casa) e façanhas tatuadas na alma. Acima de tudo, é adorado pelos torcedores.

Nesta terça-feira, D’Alessandro abriu as portas de sua casa, em Porto Alegre, para uma conversa de quase duas horas, de chimarrão em punho, com o GloboEsporte.com. Falou do passado, do presente e do futuro. Analisou o futebol brasileiro, criticou a estrutura que o rege, opinou sobre a participação da Argentina na Copa, lamentou ter sido alijado do Mundial, avisou que pretende jogar por mais pelo menos três anos para depois seguir no futebol, possivelmente como treinador. Quer seguir no Inter – como atleta e depois disso.




"Lembro de ter chegado ao aeroporto com um nervosismo normal por estar vindo para um clube novo, as pessoas não me conhecerem, eu não conhecer a cidade. Fiquei surpreso pela recepção. Tinha muita gente. Eu achava que muitos não me conheciam e, sinceramente, fiquei surpreso."

"Lembro que a torcida me deu um boné, coloquei e saí por outro portão. Por isso que me surpreendi com o carinho já no primeiro dia. Foi uma coisa que, com certeza, ajudou muito na minha adaptação. Quando tu chega a um clube e tem essa recepção, esse carinho, já pensa diferente, já pensa que o primeiro passo foi dado."

Não me acomodo, porque minha carreira continua, sempre quero mais, mas acho que, nesses seis anos, conquistei junto com o clube coisas que não imaginava. E agora, até para o torcedor me conhecer melhor, a gente está fazendo um livro para contar um pouco da minha história. Foi uma ideia que surgiu, eu gostei, e estamos fazendo o projeto andar. Ainda não temos data para lançar. Tomara que gostem."


"Eu gostei de virar capitão. Gostei. E gostei por ter sido ao natural. A gente não sabe se merece ou não, mas é algo que depende de muitas coisas. Tem que ser aceito pelo grupo. É o principal. É impossível ser aceito por todo mundo, porque tem 35, 40 jogadores num elenco, e sempre vai ter alguns que gostam mais de ti, outros não."


"Demorei um pouquinho para entender a arbitragem, minha relação com os adversários. Agora, acho que me conhecem, sabem como sou. Às vezes, brinco em campo, às vezes falo demais."


"Sinto o carinho do torcedor. Muito. Sigo pensando que é demais. Isso me dá mais vontade, mais força para tentar buscar esses objetivos, conquistar mais títulos, manter o Inter no lugar que ele merece."

"É uma possibilidade muito grande (se aposentar no Inter)."
"Minha ligação ao futebol é muito grande. Com certeza, gostaria de fazer algo com o clube. Penso nisso. Se tiver essa opção de ficar, de terminar minha carreira aqui no Inter, acho que vai ser bom. Daqui a pouco, vou cumprir nove, dez anos no clube. Gostaria de ajudar. Sobre a carreira de treinador, vou fazer um curso."

"Não sei fazer outra coisa, cara. Quando terminei o colégio, era só futebol. Larguei tudo pelo futebol. Não posso reclamar de nada do futebol. Ele me deu muita coisa, muito mais do que eu imaginava. Minha vida vai continuar relacionada ao futebol. Minha família já sabe disso."

"A gente sente que o atleta não é escutado. Sem jogadores, não existe futebol. Sabemos disso. Muitas vezes, se pensou em paralisar o futebol, mas sabemos que, por trás dos jogadores, há os torcedores, nossa família, muita gente que vai sofrer se o futebol parar. Mas vai ter um momento em que vai ter que acontecer"


"Os atletas precisam ser mais unidos. Somos uma força muito grande. Sabemos que muita gente depende de nós. O futebol também não seria nada sem o torcedor. Não tem graça sem torcida. É feio. O torcedor é parte muito importante de nossa briga. Mas temos que ser ouvidos."

"Acho que poderia ter sido convocado, sim. Poderia ter recebido essa chance para mostrar que tinha possibilidade. Nem essa chance eu tive. Não me frustrou, porque minha carreira continua. As coisas acontecem por algum motivo. Não fui para o Mundial, mas posso conquistar algo no meu clube. O futebol te tira algumas coisas, mas também te retribui depois."


"Acho que a imprensa faz parte do futebol."

"Mas ter esse carinho, esse relacionamento com o clube, torna tudo diferente. Nunca vou querer um rebaixamento na minha carreira. Nunca cogitei a chance de cair. Dependia de nós. Éramos um dos poucos"


"O ambiente é muito bom. Nosso grupo é muito bom. Não tem um cara que fale mal do outro nas costas, que queira sacanear. Nisso, nosso grupo é muito cara limpa."

"Eu já escolhi meu lugar. Meu lugar é aqui. A cada mês, a cada dia, isso é mais forte. Não tem como cogitar essa chance de sair. Não dá para falar em 100%. Mas é 80%, 90%."

"Estou com 33. Gostaria de ter mais três ou quatro anos bem. Dois ou três anos eu jogo bem"

"Mas eu gostaria de jogar três, quatro anos mais. Depois, claro, a responsabilidade, o trabalho vai mudando. Vai mudar. Vai ser dentro de campo, mas também ajudando os caras mais novos, passando minhas ideias. Essa é minha visão."



"No momento em que todo mundo não acredita que o Inter vai conseguir, o Inter consegue. Aconteceu nos últimos anos. Daqui a pouco, não acontece, porque são três resultados possíveis, e nos últimos Gre-Nais a gente se deu bem"

"É diferente. Tem que passar uma conversa diferente. Não sou só eu. O grupo tem quatro ou cinco que puxam. O Alex viveu muitos Gre-Nais, sabe como é. O Juan também viveu muito isso. O Dida dos dois lados. Felizmente, se deu melhor desse lado do que do outro (Risos)"

"Sim, tomo dura na Argentina. Falo espanhol e coloco um “bah” no meio."

"Acho que me acostumei. Noto isso com meus filhos. Falam português perfeito. Minha filha chegou com dois anos, e o Santino tinha dois meses. É gaúcho. O relacionamento com as pessoas na rua é muito bom. Nos restaurantes, já tenho meu lugar. É uma coisa muito confortável. Nos sentimos bem, nos sentimos queridos. Não tem razão para mudar. Se está bem num lugar, vai sair por quê?"











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